sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Os sinos também dobram por nós

Houve um tempo em que éramos jovens, despreocupados e encarávamos tudo com galhofa e bom humor. As tragédias, estas pareciam ser sempre alheias, no máximo resvalavam em nós. No entanto, apesar de o nosso grupo de amigos permanecer praticamente todo na mesma cidade, com o tempo a nossa relação foi se esfriando, o convívio comum desapareceu, e passamos a nos encontrar apenas por acaso. Entre eu e o Paulão, por exemplo, não havia mais a receptividade e a espontaneidade de antes, tanto que, nas poucas vezes em que nos víamos, ficávamos quase que constrangidos um com o outro. Era incrível! Nós, que já passáramos por tanta coisa juntos, agora não passávamos de estranhos. Pois por estes dias a desgraça, que sempre posara de ser nossa cúmplice, resolveu ser madrasta, e abateu-se inapelavelmente sobre o Paulão, ceifando a vida do seu único filho. Fui até a sua casa levar-lhe os pêsames, e quando me viu ele começou a chorar. Abracei-o por uns instantes, calado, e mudo permaneci enquanto fiquei sentado ao seu lado, porque eu sou especialista em não saber o que dizer nessas situações. Para o meu consolo, a Riso, da qual já foram arrebatados alguns entes queridos mais próximos, diz que nessas horas o melhor é não dizer nada mesmo, pois o que quer que se diga é inútil. Até pode ser, mas sei que deveria ter-lhe dito, junto com o lamento pelo óbito do filho, também o quanto lastimava o desfalecimento da nossa amizade.