quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Me respeite!

Fui almoçar no Karin. Boa comida, mas preços um tanto salgados. E lá estava o andarilho, imperial, só de bermudas, e à espera, como é do seu estilo. Me sentei e sondei o ambiente. Havia umas três mesas ocupadas, e era evidente que os ilustres comensais empenhavam-se em ignorar olimpicamente o maltrapilho que, às suas vistas, fétido, sujo, com a barba e os cabelos à la Rasputin, teimava em espicaçar as suas consciências. A minha comida chegou e as pessoas foram se retirando aos poucos. Ficamos apenas eu e ele. Separei no meu prato um pouco de arroz e frango. Então ouvi a sua voz. Incrível! Eu o julvava incapaz de falar. Ele pedia comida às aterrorizadas serventes que haviam se encastelado na cozinha. Terminei de comer. Juntei vários lenços de papel e montei um tosco prato, no qual coloquei a porção que separara. Levantei-me e fui entregar-lhe. Rapaz! Ele olhou para os restos na minha mão e disse não. O olhar insolente e a postura altiva me diziam tudo: "Tenho dignidade. Se quer servir-me, faça-o com decência". Saí de fininho. E eu, que já pensava em erigir uma estátua para mim mesmo, só porque resolvera esmolar as migalhas que o meu estômago empanturrado refugara... O gesto, que eu presunçosamente imaginara carregado de nobreza, revelara-se hipócrita, e merecidamente acabei levando o famoso tapa sem mão. Bem-feito!

Não deu

Abri a loja e me preparei psicologicamente para mais um dia de próspera atividade. Chegou o primeiro freguês e o cumprimentei efusivamente: -bom dia! Ele me pegou no contra-pé: -bom dia! Dá pra abrir um sorriso nessa cara? Fiquei tão surpreso que nem de leve consegui contrair os lábios. São os árabes ou os chineses que dizem que quem não consegue sorrir não deve abrir uma loja?