terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Quem tem olhos, que trema

Tempos estranhos, estes em que vivemos. Tempos em que passamos, olhamos e seguimos em frente, indiferentes ao mais novo nicho de mercado admitido pela inércia e omissão da autoridade. O retângulo de papelão, ostensivamente pendurado, alardeia, para a cidade e o mundo, a atividade mais emblemática da diminuta banca de camelô: Temos óculos de grau. Simples assim, e em letras robustas, caprichosamente trabalhadas à mão. Incrédulo, procuro o mostruário, e lá estão, simetricamente expostos em meio a sombrinhas, guarda-chuvas, cuecas e calcinhas, os propalados objetos de correção ótica. Mas, covarde ao extremo, não fui ousado o bastante para arrancar, do facultativo-ambulante, o método científico usado para determinar qual o par de óculos que supriria a deficiência visual do incauto cliente. Arrisco que seja o empírico “vai experimentando até que um dê”. Tempos estranhos estes, em que, mesmo que o agourento papelão passasse a estampar Temos células-tronco, duvido que alguém ainda tivesse a capacidade de se escandalizar.

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