quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Nenhum homem é uma ilha...

Há muitos anos o sr. Benedito Coelho de Oliveira sofria os tormentos de uma enfermidade cruel que o condenara tanto a ser tratado com desdém, menosprezo e asco - deduzidas as raras exceções – como também a testemunhar, ainda em vida, a decomposição do próprio corpo, e a vê-lo corroído e infestado por vermes. A úlcera aberta no peito, tão devastadora que fazia desviar o olhar mais obstinado, permitia entrever o pulsar do coração. Eu pretendia visitá-lo, mas nunca fui além da promessa. Acho que, inconscientemente, temia ver o que iria encontrar. Foi somente após saber que a alma do sr. Benedito libertara-se do grilhão da carne que eu privei-me da minha indiferença e fui até onde os seus restos descansavam, pois eu lhe devia uma visita. Então, à frente do seu túmulo despojado de qualquer aparato ou inscrição, pedi-lhe perdão por haver permitido que a minha vergonhosa repugnância, mascarada de reticente sensibilidade, me houvesse impedido de partilhar da grandeza da sua miséria. Em seguida, numa singela reverência, curvei-me perante o espírito deste valente que, sobrepondo-se aos estigmas do desprezo, do preconceito e da dor, soubera elevar-se à excelsa presença da majestade do Cristo.

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