quarta-feira, 26 de maio de 2010

Meu tipo inesquecível

Eu sabia que o tio Getúlio estava muito doente, no estágio final de sua provação, mas eu não estava preparado para vê-lo prostrado no leito, daquele jeito, consumido, gasto. Oh, Senhor, tem misericórdia de nós! Quando cheguei para visitá-lo e dei com o seu corpo martirizado, estremeci, mas fiz força para não chorar. Não que eu quisesse sufocar a minha compaixão. Não. O que eu queria, na verdade, era deixar transparecer apenas o respeito que sentia em vê-lo travar um combate justo. Quando nossos olhos se encontraram, parecia que os seus estavam a me dizer, pesarosos: "Olha como eu estou, meu filho!" Então, lembrei-me dele, saltitante e sorridente, pelas ruas da Boa Vista. Não me peça desculpas por tê-lo visto torturado, tio; eu é que lhe peço perdão: embora você tivesse me parecido tão frágil e indefeso, tão carente de cuidados, mesmo assim eu não me desdobrei em lhe oferecer suficiente conforto; eu nem ao menos tentei colocá-lo no colo! Embora eu o tivesse abraçado, beijado e dito que o amava, ainda assim eu não passei pelo menos uma noite em claro em sua companhia. Apesar da minha omissão, ainda pude murmurar ao seu ouvido o quanto eu me orgulhava da sua coragem em escolher partir com dignidade, em casa, rodeado dos seus. Mas o que realmente eu admirava em você não era o destemor, e sim a sua grande capacidade de amar. A todo instante você dizia a todos que os amava, e esta é uma entrega que não é fácil de se fazer, porque manifestar o amor é sempre doloroso. Ainda busco compreender porque é tão doído demonstrar o amor. Mas você, indiferente à inevitabilidade da dor, ousou lançar-se à conquista do bem supremo: tornar-se um ser amoroso em toda a sua plenitude. E o conseguiu. Hoje, agora, sempre, você é amor. Ainda não aprendi a sua lição, tio, de querer só o amor. Mas é isto o que eu quero, com toda a minha alma. Obrigado por sua atenção amorosa que nunca me faltou, e receba a bênção do meu amor.

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