quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A estrela sobe

Antes de renascer, minha tia Suely optou pelo espinho na carne. Pregada à cruz do câncer purificador, em 02 de março de 2002 a sua alma peregrina libertou-se de mais um cativeiro terrestre. Algumas semanas antes, eu a visitara pela última vez no hospital. A despeito do corpo enfermo, eu a vi como que envolta numa aura de serena conformação, de pacífica resignação ao seu inexorável destino. A sua figura tão delicada, estendida no leito, entre os cobertores, debilitada pelo assédio da moléstia, parecia-me como uma avezinha que, após sofrer um duro baque, dá vontade da gente agasalhar amorosamente e cuidar com desvelo. Cumprimentei-a, toquei-a, e eu não pude sentir em mim nada mais além da profunda beleza que a sua essência infundia. E tudo o que eu soube dizer-lhe da verdade daquele instante, e com a firmeza do meu coração, foi isto: que ela estava tão bonita! Ela chorou. E durante o resto do tempo em que estive ali, até me despedir, fiquei apenas a olhá-la. Não soube dizer-lhe mais nada. Não havia nada mais a dizer.

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